quinta-feira, maio 22, 2008

senso comum...



















Ontem fui à missa. Uma missa onde estamos sentados no chão, onde se ouvem músicas que chegam ao coração, que nos amolecem a alma e onde há um espaço de partilha para quem assim o desejar. Ultimamente tem-me irritado ir lá, por duas razões. A primeira é que, embora as homilias sejam muito acertadas, concretas, objectivas e aplicadas à vida real, os senhores padres falem muito bem, e o que dizem tem sentido, soam-me a teorias "cor-de-rosa". É um optimismo que nem sempre consigo perceber, acompanhar. Não sei se é algum sentimento subconsciente de raiva, por nada do que ouço se enquadrar com o que sinto, e por isso rejeito, se é por de facto a vida não ser de todo assim. Tenho um amigo que me dizia que aquelas missas eram uma "farsa", porque transmitiam à pessoas uma ideia da vida que depois não correspondia à vida real, ao que as pessoas têm que enfrentar e ao que os próprios oradores viviam. Deixou-me sempre a pensar. Tenho a noção de que é importante receber sinais de confiança, de esperança, palavras sábias, algumas bem verdade. Mas também tenho noção de que quando saímos daquela porta tudo é diferente, nada é fácil como nos fazem parecer. Estilo "olha para o que eu digo, não olhes para o que acontece."
A segunda coisa que me me deixa inquieta, no seguimento da visão cor-de-rosa do mundo, são as partilhas da maior parte das pessoas, que me soam a "hipócritas", que mostram uma ânsia de dizer seja o que for para fugir ao silêncio, porque esse sim, pode ser revelador.
Ontem ouvi algumas coisas que registei mentalmente para tentar não me esquecer, porque as faço exactamente ao contrário e não fazem de mim uma pessoa melhor, nem me ajudam a fazer felizes os que estão à minha volta. Espero que, mais do que ouvir atentamente ou admirar o que é dito, pela maneira como é dito, as pessoas retirem de cada missa algo que lhes torne os dias melhores, no meio das dificuldades e atribulações, algo que seja motivação de seguir em frente. Os PPP: pouco, pequeno e possível.


2 comentários:

João Miranda Santos disse...

Compreendo muito bem o teu sentimento por a determinada altura as coisas não serem tão cor de rosa como podemos ser levados a sentir ali dentro. Também sinto o mesmo, há fases em que de facto parece que a realidade grita mais alto. Mas há duas coisas que tenho a certeza. A primeira é que as fases são passageiras, e o que nos faz viver e a razão do nosso optimismo é perene. A segunda é que a vida real não é de facto aquilo que ali dentro se diz mas também não é de maneira nenhuma o que se vive cá fora. A vida real vai ser aquilo que nós fizermos com o que temos cá fora, que é diferente do que se diz lá dentro senão é que não iamos lá mesmo fazer nada. E não ouvi nunca ninguém dizer que era fácil! Tu sabes tudo isto e bem o mostras no final, mas o desespero gosta muito de aparecer como uma bela tentação...

Anónimo disse...

Penso que o importante não será pintar as coisas de cor-de-rosa, mas conseguir ver beleza nos podres da vida. Não falo de inventar coisas sem importãncia ou sentido para colorir ou encobrir a realidade, falo de aceitar e encarar a realidade como ela é conseguindo achá-la perfeita tal como é, apenas porque é tal como é, porque existimos.

Penso que esta cor cinzenda da vida é a cor mais bela que ela poderia ter, pois é a cor da graça d'Ele em nós.Espero não tar a parecer tolamente optimista, não se trata disso, é muito pura e simplesmente uma questão de tranquilidade interior e humildade para aceitar e desfrutar do que temos, sem claro cancelar esforços por uma realidade melhor.