segunda-feira, maio 19, 2008

encontros...

























Hoje fui almoçar com um grande amigo, daqueles que vem dos tempos de caloira, quando não vislumbrava sequer o que seria a minha vida por Coimbra. Mas já na altura sabia que podia contar com ele, porque já na altura era das poucas pessoas com quem me sentia em sintonia em vários campos da minha vida, pela sensatez, os valores,
princípios, objectivos de vida... Fomos fazendo um percurso mais ou menos semelhante, com alguns encontros e desencontros. Estudamos o mesmo curso, na mesma faculdade, fizemos ambos Erasmus no país da língua romântica, interessa-nos o mundo e as viagens, as pessoas e o seu lado humano. Faltava-nos um ponto de ajuste. África. Hoje fomos almoçar, não só porque gostamos de nos manter informados acerca um do outro, nesse processo a que chamam de amizade, mas também porque ele regressou de um mês em África há pouco tempo e ainda não tínhamos tido oportunidade de partilhar os sentimentos, as desilusões, as angústias, as ideias reformuladas depois de pisar a realidade africana. Quando ele saiu do carro fiquei a pensar sozinha na conversa que tivemos. Apercebi-me que vim de África há demasiado tempo, se não estou em erro, 3 de Setembro de 2005, e quando estamos demasiado tempo afastados de algo, alguém ou algures, reformulamos a nossa imagem para uma imagem romântica, idealista. Quero muito voltar a África, desta a um país ainda mais carente de sonhos, carente de pão, de mãos, de vontades, objectivos, justiça, paz... escreveria mais umas quantas carências. Quero voltar para não esquecer, para lembrar, para sentir. Quero conseguir ver Deus lá, nas pessoas, nos olhares, na terra, nos buracos das estradas, na ausência.. descobri-Lo mesmo onde o mundo é tão pouco digno. Dizia ele.. "é por isso que as pessoas lá não deprimem, não podem ter depressões". Pois não... nós é que deprimimos porque temos acesso a demasiadas coisas, a demasiadas tentações. "Só uma intervenção política podia salvar aquele continente". Utopia pura. O meu pai, "sábio que doí", no fim-de-semana tentou explicar-me a lógica de África. Continente escravo a vida toda, jogado ao abandono. O que esperamos nós afinal? A minha irmã dizia que se até nós portugueses, em democracia há 30 anos estamos como estamos, como queremos ver África em progresso?
Questões de uma história interminável, num continente que em mudança, parece ter estagnado no tempo. Não consigo chegar a respostas, pensar sequer em conclusões. O meu papel é uma incógnita, procuro percebê-lo. A vontade de ser cidadã voltou, o sonho de ver uma África de cidadãos é quase um atentado à inteligência.
Mas anseio para breve o reencontro.


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