domingo, maio 18, 2008

the point of (no) return...



Acordei com uma vontade súbita de escrever. Tantas coisas me passaram pela cabeça, textos completos, as coisas que repentinamente me apeteciam partilhar aqui.

Percebi que não tenho escrito, não só por preguiça, mas porque "não tenho assunto"... ou tenho assuntos que de algum modo me sinto inibida de escrever aqui.. Então percebi que a minha vida anda "sem assunto", ou melhor, assuntos há, mas deixo-os passar ao lado de tão centrada que ando nas minhas hérnias umbilicais.
Sempre em sintonia com a "minha Inês", a minha primeira motivação de escrita foi o Sr. Jaime, um doente de 70 e poucos anos, que vimos na semana passada. Um senhor, de olhos cor do céu, um sorriso estampado, um misto de alegria, nostalgia e resignação no olhar, a simplicidade de um homem do campo que toda a vita lutou e trabalhou "no ganha pão", desde a agricultura aos camiões pesados. "Sei tocar saxofone, clarinete", e mais algum outro instrumento que já não recordo. Tocava na banda lá da terra, mas "agora já ninguém quer saber"...
"É casado?" "Viuvo, infelizmente." As filhas tomam conta do pai, aparentemente atenciosas, os netos "só querem saber de sair à noite".
O Sr. Jaime tem uma estenose aórtica, dá-lhe muito cansaço e falta de ar. "Nestes últimos tempos já mal saio de casa... nem sei.. estou para lá sozinho, quase que pareço um velho".
O Sr. Jaime não sabe que foi o momento mais bonito desse meu dia. Também não sabe que me fez perceber que andava a viver a vida toda do avesso.
Simultaneamente a isto voltei a fazer diariamente o "exame de consciência", onde percebi que, de facto, consciência tenho tido pouco. De que me queixo afinal? De ser tão feliz que não posso aguentar com tanta felicidade?
Não... mas hoje acordei com vontade de voltar a escrever, assim como com vontade de secar as lágrimas, com vontade de me (re)encontrar, de lutar por mim, pelo que está esquecido, pela vida tenho tenho e pela qual só posso dar graças.
Amanhã não sei como vou acordar, mas deixo que este registo me recorde o propósito de hoje para os dias que se seguem.


2 comentários:

Anónimo disse...

quem me dera que acordasses com vontade de escrever todos os dias :) todos ficavamos a ganhar, tu é que não sabes!
ip

Inês disse...

:) é bom desvendar a alegria de viver numa enfermaria de cuidados intermédios, onde até as calças têm só meio cordão...