sábado, janeiro 31, 2009

pessoas...


A minha professora de português do secundário (foi sempre a mesma) chamou-me um dia no fim de uma aula e disse-me: " A menina não anda bem!" Eu sorri e perguntei porque dizia ela aquilo, ao que ela me respondeu que eu estava menos participativa nas aulas, menos segura e confiante nas minhas participações e com um ar recatado, pouco espevitado, como era meu habitual. Que marcava pouco as minhas opiniões, que não me voluntariava e que ela tinha que me interpelar, pedir para comentar em vez de me pedir contenção face ao resto da turma. Ela não sabe que foi ela quem me fez questionar pela primeira vez em ser médica, que me despertou a sensibilidade, o raciocínio. Não sabe que me deixava a pensar tantas vezes, e que foi nessa altura que comecei a olhar para mim, para os outros. Foi exemplo de perspicácia, atenção, amizade, exigência, e bom senso. Arrojada também, contestatária, revolucionária. Sempre lutadora. Dizia sim quando pensava sim, não quando pensava não. Sem ser conservadora, sabia que havia limites, fronteira. Ensinou-me que o eu toca no outro e há que ter isso em conta nos passos que damos, para não magoar as pessoas de quem mais gostamos. Lembro-me de perceber que teria que saber ter preserverança (na altura não lhe chamei esse nome), que teria que saber abdicar de desejos próprios e manter o que me era querido.

Alda. Às vezes vem-me à memória. Recordo o que aprendi com ela, acho que para me (re)centrar. Recordei-a talvez para me voltar a lembrar que mereço votar a ser espevitada!





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