sexta-feira, março 11, 2011

aparências não iludem (?)...




Disse-me pela enésima vez: "Tu não eras assim tão fria".
Eu não sou fria. A minha compulsão até é "do coração". Há de facto um "qualquer adjectivo" que me faz parecer fria. Em circunstância bem definidas.
Confunde-se com o procurar ser objectiva e pragmática. Às vezes peco por excesso.
Porque a vida nunca foi demasiado amarga para mim e não sei na realidade o que ela pode vir a custar. Talvez.

Balbuciou, não pela enésima, mas num discurso recorrente, algo do género "és bem complicada, para te aturar é preciso alguém paciente". Sou intolerante. Verdade, mas com os próximos. Apenas.
Os nossos níveis de exigência são sempre maiores com os mais próximos. Porque gostamos mais dos que nos são queridos, queremos o melhor para eles e achamos que o que está na nossa mente é o certo e o tal melhor. Às vezes é difícil controlar os impulsos.

No que concerne a "assuntos de trabalho" sou objectiva (daí a aparência fria) mas atenciosa. Preocupo-me, sou atenta com os doentes, dedico-me, mas, de facto, não os "trago comigo para casa". E não os quero imortais. Como não quero "os meus" imortais.
Nunca perdi ninguém deveras próximo/importante. Não sei o que custa. Visão "virgem"? Talvez.

Em casa fico desconfortável quando me abordam sobre o trabalho, porque a minha pequenez é também a minha insegurança e não tenho as respostas que normalmente querem ouvir nem vendo saúde ou milagres.
Procuro fazer o que está ao meu alcance. Que é (ainda tão) pouco.

Mas, independentemente de tudo, o maior erro é medir frequentemente os outros pela minha própria medida. Em casa ou no trabalho.
Porque nem todos sentem, reagem, pensam, agem como eu. Passo (e passarei) a vida inteira a treinar isto. A treinar ser boa cirurgiã, boa pessoa. Nem demasiado 'egocentrada', nem demasiado acomodada.



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