segunda-feira, agosto 03, 2009

lições...


A minha mãe desde sempre me disse: "Filha, tu és muito urbana!" Não diz com grande alegria, assim como eu não ouço com grande orgulho. A verdade é que sou mesmo, gosto da confusão, do anonimato, das noites agitadas, do trânsito (não de ponta), da vida mais em turbilhão.

Nasci com aviários, vacarias e muitas terras de cultivo por perto. Nunca fui muito pró-activa em tarefas do campo. Agora gosto de uma boa vindima, apanha da maçã, de ir à terra apanhar ares do campo, de cozer pão no forno da aldeia, de apanhar legumes para trazer.

Gosto de ir e apreciar a simplicidade das pessoas, de ouvir as expressões da terra, de estar lá no meio do nada. Mas gosto de ir e estar porque sei que volto à cidade.

E isto não é bom nem mau. Acho que sou simplesmente eu.

Há dias fui subir o Guadiana com a família. Tinha descido o Douro em Setembro do ano passado e tinha sido uma viagem pacífica, recatada e requintada. A paz do rio por entre a paisagem mais bonita que Portugal ostenta (opinião pessoal). Expectativas semelhantes para o Guadiana. Qual surpresa, um barco em tudo diferente da do Douro, e, ainda mais, turistas consideravelmente diferentes. Algumas (muitas) horas de música Pimba em grande, em decibéis audíveis em qualquer recanto do rio, bailarico para o "povo", apenas com interrupção para almoço dos músicos. Qual cabeça a minha a implodir para não explodir. E a paisagem que nem sequer é nada que me encante.

Na viagem de regresso, subimos ao leme, o capitão do barco meteu conversa e o comandante foi atrás. Ouvimos uma vida de histórias, partilhei viagens na costa africana. Regressei (com a música no convés sempre presente) a desfrutar da brisa do rio e a ouvir a simplicidade de gente do mar. No meio da conversa diz o capitão: "Hoje já ninguém fala de boca, de coração."

Foi um dia ganho, afinal. Sou urbana mas aprecio a sabedoria popular, a sabedoria da vida. Aprende-se muito com quem já viveu muito. Aprende-se com quem viveu longe da cidade, porque na cidade as tentações de aprender pouco são sempre muitas.


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