Não me lembro ao certo como é que a conversa começou...talvez por estar a espreitar as fotos, tinha acabado de ler o mail, talvez porque falo de vocês com frequência e facilidade.
Ela (minha superior hierárquica do momento) perguntou que faziam vocês na Guiné, no mesmo tom de sempre, de desdém, porque não teriam conseguido arranjar empego cá. Eu disse que ambos se tinham demitido para partir. Tal como o teu chefe, incrédula, ela não conseguiu argumentar, tentou, tenta sempre, no seu jeito tonto e derrotista, mas desistiu. Não lhe consegui dizer, tal como tinha dito semanas antes a um enfermeiro, que estavam simplesmente a ser felizes, ela não ia compreender.
Ela não comprendeu. Quase ninguém compreende. Acho que porque não vivenciam, porque é uma reallidade demasidado distante, televisiva. Só pode ser isso!
É-nos incutido que trabalhar é bom, ganhar dinheiro é bom, constituir família é bom, arriscar qb é bom, a segurança é boa. Ninguém nos incute que há outros modos de vida que são igualmente bons, e que podem inclusivé ser melhores para alguns 'comuns mortais'. E só vivendo se pode compreender. É, por isso, quase inútil tentar explicar.
À tarde uma amiga comum dizia-me que "a vida dela era uma espécie de dilema, entre as 'fotos' e um bebé". Há decisões que precisam ser tomadas e para as quais o relógio biológico não espera.
Tenho a sensação que a vida aos 20 anos é veloz, o tempo não espera. E a distância física e temporal arrasta consigo os sonhos da 'era dourada'. Ou talvez haja uma espécie de tendência aleatória, ou não.
Eu invejo...
compreendo...
e mantenho-me audaz...