quinta-feira, novembro 26, 2009

olhares...


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo…

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.

(...)

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…

(...)

FP

needles...






Eu podia escrever sobre o fim do "meu curso interminável".
Podia escrever sobre o exame para que me fui preparando durante 11 meses e que acabou por correr bem.
Podia escrever sobre os 4 meses de reflexões, introspecção, crescimento e aprendizagem em que soube ser feliz.
Podia escrever sobre o que me foi dizendo o coração e a alma, sobre as pessoas que se fizeram e fazem tão presentes.
Podia descrever a alegria e felicidade que senti ao me arrancarem pedaços de tecido em tons de branco e preto. A felicidade de estar com e entre os meus. E o sorriso, o meu sorriso autêntico e genuino. De dever e missão cumpridas. Com vocês ali, a sorriem também.
Podia escrever que estou feliz.

Mas quero escrever que hoje fui apanhar 2 couves, uma lombarda, com "um ollhinho lá no meio", outra tipo repolho. E dei comida aos gatos. Eu não gosto lá muito de gatos.
Nestes dias, antes de me sentar a não fazer nada, dou um beijinho na testa da minha avó.
E o que eu quero escrever é que, depois deste ano para o qual ainda não descobri o adjectivo certo, o que eu peço para o ano seguinte é poder dar um beijo na testa da minha avó num segundo roubado às couves, aos gatos...

quarta-feira, novembro 25, 2009

on my way...





segunda-feira, novembro 02, 2009

playlists II...

"You're a sight to see this early morning
Getting lost in my own neighbourhood."



addictive...


playlists...


Lisboa que amanhece - Sérgio Godinho


Cansados vão os corpos para casa
dos ritmos imitados de outra dança
a noite finge ser
ainda uma criança
de olhos na lua
com a sua
cegueira da razão e do desejo

A noite é cega e as sombras de Lisboa
são da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
amou como se fosse
a mais indefesa
princesa
que as trevas algum dia coroaram

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflecte o dia à solta
à noite é prisioneiro dos olhares
ao cais dos miradouros
vão chegando dos bares
os navegantes
amantes
das teias que o amor e o fumo tecem

E o Necas que julgou que era cantora
que as dádivas da noite são eternas
mal chega a madrugada
tem que rapar as pernas
para que o dia não traia
Dietrichs que não foram nem Marlenes

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

Em sonhos, é sabido, não se morre
aliás essa é a única vantagem
de, após o vão trabalho
o povo ir de viagem
ao sono fundo
fecundo
em glórias e terrores e venturas

E ai de quem acorda estremunhado
espreitando pela fresta a ver se é dia
a esse as ansiedades
ditam sentenças friamente ao ouvido
ruído que a noite, a seu costume, transfigura

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece